UMA HISTÓRIA DE BÊBEDOS, GENOCÍDIOS E RAPARIGAS NÃO NASCIDAS
Quem nunca ouviu dizer que há 7 mulheres
para cada homem? De facto, em termos mundiais e até ao final do século
passado, o número de mulheres era superior ao dos homens.
Analisando os
dados estatísticos relativos aos nascimentos, em datas e geografias distintas, o
número de nascimentos de crianças do sexo masculino foi, invariavelmente, superior
ao do sexo feminino, segundo uma paridade aproximada de 105 para 100. No entanto,
a partir dos 5 anos de idade o valor invertia-se, acabando o topo da pirâmide com
um elevado número de mulheres, o que lhes conferia uma maior esperança média de
vida. Um conjunto de fatores eram apontados como responsáveis por essa inversão
estatística, sendo as guerras, com a participação exclusiva dos homens, os
trabalhos mais pesados e o abuso das bebidas alcoólicas, as mais apontadas.
Embora essas premissas se tenham alterado ao longo dos tempos, os dados
demográficos mantinham-se inalterados. Se, nos países desenvolvidos, era nas
classes etárias mais altas que a diferença entre indivíduos do sexo masculino e
feminino era mais notável, com as idosas a continuarem a superar os idosos, nos
países em desenvolvimento mantinham-se as tendências primitivas. Os cuidados
básicos de saúde, os programas nacionais de vacinação, o acompanhamento médico
na gravidez e no primeiro ano de vida do bebé protegeram meninas e meninos nos
países desenvolvidos, mantendo-se, ao longo da pirâmide, os diferenciais
registados por altura do nascimento e invertendo-se somente a partir da classe
etária dos adultos. Ora, face a esta nova situação, foram equacionadas outras
premissas que justificassem o predomínio das mulheres no topo da pirâmide. Os
movimentos migratórios, no caso das nações, e as características fisiológicas
das mulheres, a nível planetário, eram alguns desses exemplos.
Um estudo
realizado com os dados demográficos relativos a 2013 deu origem a um artigo
interessante, de David Bauer, sob o título
“A
story of drinkers, genocide and unborn girls”, que pode ser lido em
http://qz.com/335183/heres-why-men-on-earth-outnumber-women-by-60-million/
*e que motivou este meu
post. Antes
de mais, nos nossos dias,
os homens
ultrapassaram as mulheres em 60 milhões de indivíduos, sendo a China e a
Índia (em valores absolutos) os principais “culpados” e, em menor grau, o
Paquistão e o Bangladesh. Um
“gendercide”,
consequência da política do filho único na China (apesar das alterações em
relação à lei inicial), os meios de diagnóstico de imagiologia (detetando
precocemente o sexo do bebé) responsáveis pelos abortos seletivos, o
infanticídio de meninas, a religião e a tradição tornaram obsoleto o rácio “7
mulheres para cada homem”. Em 2013, 49.59% da população mundial eram mulheres.
81 países eram maioritariamente femininos, 37 maioritariamente masculinos e em 75
havia paridade praticamente perfeita de géneros. Segundo o princípio de Fisher,
naturalmente, deveriam existir 50% de homens e 50% de mulheres, no Mundo. A
maior esperança média de vida das mulheres seria compensada pelo maior número
de nascimentos de rapazes (em 2013 foram 107/100). Aumentando a escala, não foram
só os países referidos anteriormente que apresentaram um maior número de
indivíduos do sexo masculino. Na Península da Arábia, o número elevado de
imigrantes do sexo masculino, impedidos de se fazerem acompanhar de mulheres e
filhos, origina a singularidade de, no Qatar,
o número de mulheres residentes
corresponder a menos de um quarto da população total.
No outro extremo,
os estados resultantes da pulverização da antiga União Soviética possuem uma
população predominantemente feminina, com a Rússia a liderar o grupo, tendo uma
esperança média de vida dos indivíduos do sexo feminino 12 anos mais que a dos
indivíduos do sexo masculino. A crise do sistema de saúde após os anos 90 do
sec. XX e os enormes valores de alcoolismo foram responsáveis pela diminuição
de 6 anos na esperança média de vida dos homens e de 3 anos no caso das
mulheres. Os genocídios ocorridos em alguns países do Médio Oriente, Sudeste
Asiático e África, deixaram estes países com uma população feminina
significativamente superior a anos anteriores. Hong Kong, Sri Lanka e Nepal também assistiram a um maior crescimento da população feminina nas últimas 5 décadas. Nos dois primeiros casos os movimentos migratórios inversos, por sexo, imigração feminina e emigração masculina, criaram uma geração de jovens mulheres cuja única esperança é permanecer solteira.
Nos países com
um maior Índice de Desenvolvimento Humano a percentagem de indivíduos dos dois
sexos é semelhante. Portugal enquadra-se neste grupo.
* No artigo
referido anteriormente encontrará um mapa e um gráfico interativos, muito
interessantes, bem como ligações para estudos diversos.
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